O calor do sol em minha face, a brisa do bater de asas de meu falcão, mais uma guerra para começar.
-Atacar!- Grita o lorde com sua espada em punho.
Meus amigos pereciam ao meu redor, a guerra os tomava de mim. Porque? Não sei. Vendo eles caírem, eu lançava minhas flechas, cada tiro, um acerto, um inimigo ao chão. É a honra de um arqueiro em prova.
Em meio ao caos da batalha, eu já não estava mais em mim, simplesmente a fúria tomou meu coração. Minhas flechas cortavam suavemente o ar antes de cravarem-se no peito do agressor.
Já não via meus movimentos, eram rápidos e precisos, meu arco tremia e vibrava com a força dos disparos contínuos. Meu coração também tremia, mas de trizteza.
A alma ferida tremia pois perdera as pessoas que lhe eram tão importantes, e mais que isso, minha amada que lutava a alguns metros de mim, cercada de inimigos clamava por ajuda...e eu nada podia fazer.
Invocando a ira dos deuses sobre os agressores, lutava minha linda feiticeira. Suas magias derrubavam os fortes guerreiros, mas ao longe se aproximava, invisível aos seus olhos. Sorrateiro.
Mortal.
Um algoz preparava um ataque final. Ela não notou sua presença, eu por outro lado já mirava em seu peito sujo do sangue de meus parceiros. Ele corria para atacar, eu atirava sem pensar. Um segundo tão longo quanto um milênio. Cheguei a pensar por um momento, "Eu a salvei, talvéz ela me ame agora...". Sim. Ela não tinha conhecimento dos meus sentimentos, mas mesmo assim foi protegida por eles. Ou não.
Enchi meu peito de esperanças. Precipitado, corri em sua direção, e só então notei, que não havia acertado o corpo do agressor. Eu errei. E como preço pelo erro vi a vida rubra escorrendo pela lâmina envenenada do algoz, jorrando de seu peito.
Perdoe-me minha preciosa, não pude salva-la. O coração que eu tentava conquistar, agora, por minha culpa estava atravessado por uma adaga e morrendo por veneno.
O sangue banhou seu corpo, e estraçalhou meu pequeno coração já ferido. Tomado por terror e ódio, ordenei ao meu falcão que trouxesse, vivo e pulsando, o coração do cruel assasino.
Suas garras penetraram tão facilmente no corpo do sombrio sicário, quanto a adaga do mesmo no peito da gentil bruxa.
Mas já não me restava nada.
Vingança instantanea me pareceu indolor e desprazerosa.
Meu ódio não se conformava.
Queria que o maldito sofresse, agonizasse e então morresse.
Em meio aos pensamentos diabólicos, me encontrei parado no campo de batalha. Não demorou muito para que um outro arqueiro me lançasse sua própria flecha mortal.
Perecí da mesma forma que viví.
Pela flecha e o arco. Sem ninguém que rogasse por minha alma.
Enfim fiquei em paz.