Anjos Também Choram


Fiquei sem memórias,
Honra, amor ou sorte.
Quando contei minha história
À quem seria minha morte.

Mas afinal,
Não cometi sequer um engano.
Sempre achei que beleza tal,
Só se encontrasse nos anjos.

Pois que um anjo ela era,
Mas não um dos mais adorados.
Um anjo ceifador. A morte. A fera
Que leva a vida dos já acabados.

Mas que há uma grande ironia
Em me apaixonar pela morte,
Já que sempre gastei meus dias
Sendo um andarilho sem sorte.

Dizem que ao morrer
Vê-se o rosto da morte e chora,
Mas eu, que já a conhecia, não pude sofrer
Em minha última hora.

Que posso dizer mais
Senão "Obrigado".
Por ceifar minha vida no meu amado cáis,
Sob um céu enluarado.

Última brisa, foi do mar.
Último som foi das ondas.
Última visão foi do luar.
Último desejo...Teu rosto...Não me escondas.

Deixe que eu veja no final
O rosto daquela a quem dei meu último beijo.
Aquela que foi meu bem e meu mal.
Aquela, única, que não me jogou no desprezo.

Peço que não chore por mim,
Se eu acabei desta maneira
Foi porque fiz para merecer assim.
Temo ter que acabar, com a nossa relação inteira.

Já que você, é a morte.
E eu o morto.
Tú que me levas ao eterno açoite.
Eu que sempre lembrarei de teu beijo morno.